Libertadores… ah, Libertadores!

Na ordem, os brasileiros que conseguiram os melhores resultados:

1- Galo

2- Palmeiras

3- Grêmio

4- Fluminense

5- Corinthians

6- São Paulo

Porém, uma coisa é conseguir um resultado bom/razoável na partida de ida, eu mesmo comemorei loucamente quando empatamos em La Bombonera em 2000… outra coisa é transformar esse hipotético bom resultado em classificação efetiva.

O Corinthians, por exemplo, tem plenas condições de tocar dois gols no Boca, porém, há que se constatar que nem mesmo na Libertadores passada o time precisou ir para algum jogo PRECISANDO GANHAR.

O Palmeiras, por outro lado, “só” tem que ganhar de 1×0, mas é sempre bom lembrar que precisa fazer um gol, no mínimo, pois essa “vantagem” não significa nada se ao final dos 90 minutos, o placar estiver virgem.

Mesma situação vive o Fluminens, precisa “só” de 1×0, mas tem mais time. MUITO mais time, no caso. E o Grêmio joga pelo empate, situação que só não é mais confortável que a do Galo, que talvez entre pra “se divertir” no jogo da volta, uma vez que o São Paulo insiste em jogadores celenterados e unicelulares, como Lúcio e Luís Fabiano. Ontem, o jogo estava nas mãos do São Paulo, perdendo gols e dominando a partida, até o Lúcio fazer aquela bobagem!

Vejo a gente perdendo uma quartas de final para o Galo… e o Corinthians os eliminando, pra enfrentar o Fluminense na final.

Se bem que o Galo, bem reforçado com os Meninos de Caruaru forjados no Goiás anda, a despeito de tudo o que o cerca desde priscas eras pintando como Campeão! Um legítimo campeão, e eu quase começo a ficar feliz pelo Christian…


Precisamos Conversar…

Eu queria encontrar uma pessoa (ou várias) que tivesse lido “Precisamos Falar Sobre o Kevin”, pra passar horas discutindo… achei um livraço, dos melhores que eu li ultimamente, e fico imaginando o trabalho que deu pra escritora. E nem tanto por compor um personagem como o Kevin, uma pessoa completamente “endemonioada”, e sim, a mãe dele, narradora do livro (na verdade, o livro é composto de cartas que ela escreve para o marido, pai do Kevin). 

O que o Kevin faz, um massacre numa escola americana? Sim, isso é a cereja do bolo, mas ao longo da vida, ele atormenta a vida da mãe de tal maneira que nos faz pensar em algumas coisas, como por exemplo, provocar a retirada do globo ocular da irmãzinha porque acidentalmente jogou ácido de desentupir pia no rosto dela… 

Pra começo de conversa, a mãe dá a entender que ele “nasceu” assim – fato que vai sendo minimizado ao longo do livro, onde quase involuntariamente, ela assume algumas “culpas”. Porém, me impressionou o relato dela do nascimento, que ele pareceu fazer uma careta de nojo ao ir pro colo dela e se recusou, terminantemente, a pegar o peito dela. Ela relata até expressões e esgares dele, um bebê com dias de vida, já tendo “sentimentos”. 

Será que existe isso? Criança que já nasce “ruim”? Meu pai costumava ter algumas implicâncias com algumas crianças muito pequenas, e a bem da verdade, até onde eu pude acompanhar, ele estava correto com o que ele achava/previa. Com ele, não funcionava aquela coisa de “ah, é só uma criança”… 

Daí que um amigo me falou uma coisa que fez algum sentido apesar de… bom, quem me conhece sabe que eu já transitei por quase todas as religiões, a única que eu nunca quis me envolver, nem de longe, foi o Espiritismo. Por favor, não me chame de ignorate, eu continuo respeitando o seu direito de acreditar nisso, eu só não quero me envolver. Porém, o que o meu amigo falou, infelizmente, a despeito das minhas crenças, fez sentido:

“- Eu acredito nisso de reencarnação, e tem espírito ruim, mas ruim de verdade! E aí, falam aquela coisa de que vai voltar pra se purificar, pra melhorar e ele já nasce falando que não quer se purificar, quer continuar sendo ruim…”

Faz sentido. Ainda que ao longo do filme, algumas coisas expliquem melhor alguns porquês do Kevin ser como ele é… e é muito foda ver a consequência de uma mãe que não queria ser mãe, não tem aptidão pra ser mãe e nunca quis sequer ter essas aptidões. Junte a isso um pai disposto a compensar algumas coisas e uma criança “espírito ruim”. Livro que perturba, muito! 

E que me faz agradecer o fato de que, se algum dia o Duda se tornar algo que eu não gostaria, a culpa terá sido totalmente minha e da Laura!


Parar, Dar um Tempo ou Diminuir?

Sei que já falei várias vezes aqui sobre isso. E sei que nunca vou conseguir simplesmente “parar de vez” com esse negócio de escrever em blog. Mas preciso. Ou melhor, vou dar uma diminuída. E pelo mesmo motivo que fez o blog ficar meio “rareado” por volta de 2009: falta tempo. Com uma diferença crucial: hoje, ainda que eu tenha tempo, eu não quero ocupar esse tempo com textos pro Febre Alta. Quero deixar pra pensar nisso de noite, depois que o Duda dormir. E não vai ser todos os dias, também, pois quero ler mais e ver mais filmes, por isso…

Acostumem-se. Sei que ninguém vai sofrer muito e não vai ter mulherada rasgando serapilheira em prantos, é uma contingência da vida. Eu também vou sentir falta do convívio quase diário, mas talvez, como em quase tudo na vida, “menos acabe sendo mais”. Menos textos, mais qualidade. Menos assunto, mais assertividade. Vai ser assim, depois das 23h00 eu vou sentar pra escrever, quando tiver o que escrever, e responder comentários, quando tiver comentário a ser respondido.

É assim que vai ser, porque é assim que tem que ser. Porque a qualquer momento de fevereiro, a Nina vai nascer e não vai ser escrevendo textos que todo mundo acha sensacional que eu vou comprar fralda pra ela. Grana sempre vai ser o que move o mundo. Durante algum tempo, acalentei um sonho de viver do que eu escrevo. Já me acostumei com a realidade. Agora, vou me acostumar com a decisão tomada.

Aos sábados, enquanto a Carolina quiser, meus textos estarão no Malvadezas, religiosamente. E eu sei, não ganho $ pra escrever lá, mas ganho outras coisas. Que não são da sua conta. Nem da sua. Ganho algo que me motiva a continuar escrevendo e a continuar tendo o COMPROMISSO com ela de colocar um texto todo sábado. Aliás, uma das coisas que eu mais odeio é quando alguém assume um compromisso que não envolve grana e aí, quando não cumpre, fala “Não tão me pagando nada mesmo…”

De 15 em 15 dias, a partir de uma data a ser definida, meus textos estarão também no Portal da Educação Física. Sim, faz sentido. Trabalhei com isso durante 11 anos da minha vida, e tenho uma certa percepção de mercado que me permite, aliada à verve que disseram que eu tenho, cumprir o papel que me foi designado. Com algumas arestas e ponderações necessárias, em se tratando de mim. Censuras poderão ocorrer e isso faz parte do processo. Grana ainda não tem, mas de novo, ganho de outras formas.

É assim. Ninguém mais do que eu sabe o que já ganhei  com esse blog. Quantos amigos eu fiz, sem falar na retomada da amizade com o Helinho e a Neiva, daquelas coisas de declarar em Imposto de Renda como patrimônio. Mas agora, é hora de fazer outras coisas. Por outras coisas, entenda como quiser. E entenda quando você aparecer por aqui e não tiver aquela opinião sobre o jogo polêmico da semana ou o título do Palmeiras. É a vida, só isso, nada mais.

Sigamos!


Abstinência Futebolística

Então, já sinto alguns sintomas assaz desagradáveis da abstinência de futebol, desde o fim do Campeonato Brasileiro, e nem preciso entrar em muitos detalhes acerca do fiasco que foi o meu último envolvimento futebolístico. No caso, aquele vexame inesquecível do Santos. Fato é que o Campeonato Brasileiro terminou e nada que mereça destaque aconteceu, e eu sei que o Campeonato Inglês e a Copa da Inglaterra seguem a todo o vapor, que tem os playoffs da NFL, mas sou um obsessivo criterioso. Gosto de futebol. E o limite de envolvimento que preciso me impor é o da fronteira do Brasil. Sim, eu assisto jogos do Campeonato Inglês e ainda curto o Arsenal, sei bem o valor de uma partida de mata-mata da Champios, e se eu estiver de bobeira, é bastante provável que eu assista uma partida minimamente relevante do Campeonato Argentino. Assistir é diferente de se importar. Não entendeu a diferença? Ok, adiante.

O Calendário Brasileiro é uma bosta e digo isso não pelo excesso de jogos e toda a reclamação usual. Digo que é uma bosta porque termina na primeira semana de dezembro e demora uma eternidade até começar a acontecer alguma coisa que preste. Sim, eu sei que em janeiro já começam os estaduais, a Copa do Brasil e a Libertadores, mas todos esses padecem do mesmo mal que a Copa do Mundo: times demais. E é claro que eu vou assistir aos jogos do Palmeiras, também os do Corinthias, do Santos e do São Paulo, além de ficar de olho se a Lusa vai se classificar e se o XV não vai cair, isso sem falar na saga do glorioso São Bento na A-3, mas os jogos são ruins demais! Os times pequenos jogando pra perder de pouco; os grandes, jogando pros 90 minutos terminarem logo. E as torcidas das cidades do interior dando pouca ou nenhuma importância pros times locais, isso tudo me irrita muito. Parece que os times do interior comemoram o acesso à Primeira Divisão apenas visando o dia em que jogarão contra o Corinthians em casa e vão poder cobrar 100 paus o ingresso. Dá nojo!

Mas falando em Corinthians, vamos logo pro que interessa: Libertadores! Será que eles vão ganhar? Não sei, mas um dia eles vão ganhar e vai ser uma puta festa! Eu acho que o Mano perdeu a Libertadores mais ganha de todos os tempos em 2010, quando ficou pelo caminho contra um Flamengo meia boca, mais um título que o Mano enfiou na bunda inexplicavelmente (o outro é a Copa do Brasil de 2008 e acho que tem algum outro que agora não me recordo). Nesse ano, o problema que eu enxergo é o mesmo do ano passado: o Tite. Sim, ele foi campeão brasileiro e pode muito bem mandar eu calar a boca, mas sigo achando que ele não é técnico pro Corinthians, muito menos pro Corinthians numa Libertadores! O resto é psicológico. E saber ganhar do Santos, o único time que realmente tem condições de atrapalhar, se nos restringirmos ao “campo & bola”.

Porque você olha os 12 Grandes do Brasil e percebe o seguinte: 8 já ganharam a Libertadores. Quem ainda não ganhou, além do Corinthians? Atlético – MG, Botafogo e Fluminense. Tá errado, isso. Quem bate o olho, vê a inadequação do Corinthians andando com “essa turma”. Troca o Palmeiras pelo Corinthians e fica tudo certo! E sabendo que o Fluminense é o que tem mais condições de sair desse lugar… imagine que essa situação fosse possível, seria errado dizer que Palmeiras, Galo e Botafogo NUNCA vão ganhar uma Libertadores na vida? Eu acho que esses 3 times são, oficialmente, os gordinhos de óculos do futebol brasileiro!

Restringindo-me ao Palmeiras, que é o meu time, não consigo mais enxergá-lo como um time grande. Não joga como time grande, não se comporta como time grande, não contrata como time grande, não revela como time grande, não ganha títulos como time grande e sobretudo, não reage como time grande quando é zuado! É a piada do futebol brasileiro. “Palmeiras tem quase tudo acertado com fulano… fulano se apresenta no Fluminense 15 dais depois”. E não dá nada! Assim como o Juvenal Juvêncio tem um plano secreto de transformar o São Paulo no time mais odiado do mundo (apud Mendes, Carolina), o Palmeiras conseguiu uns dirigentes que não vão desistir enquanto não acabarem com o time.

E eu sei que não vou parar de ver os jogos do time, que nunca vou mudar de camisa, e quem me conhece mesmo sabe a irrelevância da minha “torcida” por todos os meus outros 37 times, e nem se trata de me preocupar com a afeição do Duda pelo Verdão – hoje em dia, minha preocupação maior é se ele vai gostar de futebol, pura e simplesmente -, é só a raiva de ver que estão fazendo algo com “alguém” que eu gosto demais, e não há nada que eu possa fazer a respeito.

E que, apesar de tudo, fico aqui esfregando as mãos ansioso enquanto todo o sofrimento não começa mais uma vez…


E o Handebol, no fim, venceu!

Antes que me pergunte – se é que paira alguma dúvida -, eu detesto handebol. E nem tanto por ser assim, um esporte idiota, mas por subverter dois grandes pensadores: São Tomás de Aquino e Darwin. Duvida?

No caso de São Tomás, tem aquele lance que ele fala da simplicidade da (acho que) NATUREZA, que quando acha uma forma como algo deve ser feito, despreza todas as demais. E no caso, estamos falando de um esporte que usa uma quadra, uma bola, uma goleira de cada lado e o objetivo consiste em botar a bola dentro das goleiras. Ok, o nome desse esporte é FUTEBOL, concorda São Tomás? A natureza já escolheu uma forma que aproveite os instrumentos acima citados, todo o resto é desvio de função.

Ou então, um jeito de burlar a Seleção Natural, que o coitado do Darwin teve o mó trabalho pra desenvolver e vem Professor de Educação Física que não sabe jogar bola bagunçar. Imagina a decepção do cara ao ver a sua TEORIA sendo tão maltratada? Pior que ele, só Mendel, que deve ter colocado fogo em todas as ervilhas quando se deparou com duas pessoas, saídas do mesmo pai e da mesma mãe como a Laura e o irmão dela.

Voltando ao handebol, ele surgiu como um “sistema de cotas” pra abranger gente que não sabe jogar bola e isso é errado. Porque o handebol não serve pra nada, quer dizer, depois que você chega a idade adulta, vai fazer o quê com isso? Quantas quadras são alugadas para praticantes alucinados de handebol? Sim, foi legal no colegial, até na faculdade, e no meio da Educação Física existe um inexplicável fascínio da mulherada pelos caras que jogam handebol (donde espero que venha as minhas tentativas de ter praticado isso, tendo sido, inclusive, tri campeão na faculdade), mas depois, não serve pra absolutamente mais nada! E todo o tempo dedicado ao handebol foi em vão.

Por isso eu acho errado! Porque quando o cara não sabe jogar bola, tem que deixar ele mergulhar no seu iceberg das competências e descobrir alguma coisa que sabe fazer, sei lá, algo envolvendo matemática, Super Trunfo, Dinossauros, Computadores, enfim, dá pra tentar achar alguma aptidão em algo, e deixem a quadra pro futebol, ou então, se quer usar as mãos, tão aí o vôlei e o basquete existindo, apesar de muita gente não dar a mínima.

Sim, eu detesto o handebol, mas ele venceu. No caso, me venceu! Invadiu o meu terreno no que existe de mais sagrado e subverteu o futebol. Eu tava tentando identificar o que REALMENTE me incomodava nesse jeito do Barcelona e da Espanha jogarem, até que o meu Padrin Rock and Roll matou a charada:

– Aquele trem é chato demais, é handebol “cos pé”!

É isso! Essa porra que o Barcelona joga é “handebol cos pé”. Por isso é tão chato. Claro, talvez por isso seja tão eficiente, pois as partidas de handebol terminam 62 x 59, ou seja, é mais fácil fazer gol desse jeito do que jogando futebol “de verdade”, mas por favor, parem de dizer que é BONITO. Não tem um único drible durante o jogo todo! Não há espaço para a imprevisibilidade. É bola de pé em pé, naquilo que em handebol se chama “engajamento”, até o gol. Detalhe: se no futebol tivesse uma regra como no handebol, que pune o time que fica enrolando demais com o chamado “jogo passivo”, o Barcelona teria trabalho. Se todo aquele rame rame deles de bola pra lá e pra cá tivesse que ter o destino do gol, ia complicar a vida desses caras.

Sim, é chato. Mas funciona. Quer dizer, dá certo. Ninguém consegue ganhar dos caras, salvo acidentes de percurso. O meu medo é se todo mundo resolver imitar, e os professores de educação física escolar, com um sorrisinho cínico no canto da boca, comemorar a invasão do futebol por esse esporte que não deveria nem existir, sendo o próximo passo simpesmente abolir o jogo com os pés e liberar o uso das mãos.

Vai sair mais gol, inclusive…


Clichê n. 21 – Meu Livro Favorito

Eu conheci “O Apanhador no Campo de Centeio” através de “Feliz Ano Velho“, e isso não deixa de ser uma coincidência interessante. Porque um me influenciou como escritor, o outro, não. Na verdade, de uns tempos pra cá me bate um certo cagaço do Marcelo Rubens Paiva ler esse tipo de coisa e ficar puto, mas é isso aí. Eu li “Feliz Ano Velho” aos 13, e reli tantas vezes que, aos 20, resolvi começar a escrever.

“O Apanhador No Campo de Centeio” me influenciou como leitor. Eu o vi citado no “Feliz Ano Velho” e fui direto na biblioteca do meu pai procurar. Não tinha. E o mais estranho, meu pai não o tinha lido. Deu trabalho pra encontrar, percorri todos os sebos de Goiânia e nada. Um dia, o carinha de uma livraria encomendou pra mim e foi o primeiro livro que eu comecei a reler no exato momento em que terminei de ler. Eu tinha 18 anos e achava a minha vida uma merda! Foi perfeito!

Mas eu queria ler livros como aquele, e não achava nada nem parecido. E numa época pré internet, nem imagino como seria possível “pesquisar” sobre autores ou histórias similares. Tempos depois, agradeci o fato de Fante, Buskowski e Kerouac aparecerem bem depois na minha vida.

Nem me toquei que era o livro que o maluco que matou o John Lennon estava lendo. Tampouco saquei qual a possível conexão naquele filme do Mel Gibson. Não era ligado na “mística” do livro, nunca fui.

Na virada de 2002 pra 2003, eu reli pela putzgrilionésima vez e nem sei qual foi a contribuição pro meu surto no Retorno de Saturno, mas desde então, o livro me assusta um pouco. Vou reler.

Me incomodava bastante ver escrito, em mais de um lugar, por pessoas que não poderiam se dar ao luxo falar esse tipo de merda, que o Salinger ficou conhecido como o autor de um único livro, que fez imenso sucesso, e depois ficou recluso, sem nunca mais ter escrito nada. Li tudo o que pude dele, pelo menos do que foi traduzido aqui. Mas ainda acho que o melhor, disparado, é esse que conta a história do Holden Caufiled. Uma história engraçada a esse respeito é que, logo que comecei a namorar a Laura, encontrei na estante da mãe dela um livro do Salinger: “Uma Agulha No Palheiro”, fiquei loucão! E confesso, envergonhado, pois demorei pelo menos umas 20 páginas pra descobrir que era “O Apanhador No Campo de Centeio” com o título com que foi publicado em Portugal…

Me incomodou muito também o barulho que fez um livro que uma mulher lançou, meio que falando da vida dela com o Salinger… isso me mostrou uma certa sordidez no ser humano, de se interessar por algo tão bizarro assim, pois parecia meio óbvio que o Salinger havia sido bem escrotão com essa mina. E eu fico pensando no mó dos “so what” do mundo, pois quando ele morreu, eu vi um twitter de uma mina que disse que perdeu completamente o interesse no Salinger depois que leu o livro da tal Joice Maynard.

Como assim? O que seria “perder o interesse em Salinger”? Que tipo de interesse ela tinha (além do literário, ÓBVIO) e que acabou se perdendo só porque ele não era um maridão companheiro, a favor do diálogo e que ajudava a lavar a louça depois do jantar? Sei, levianérrimo esse meu comentário, até porque eu não sei absolutamente do que se trata no livro, do que ele de tão ruim fez pra mina que foi abandonada no campo de centeio, mas é que não consigo pensar em nada (ABSOLUTAMENTE NADA) que ele pudesse ter feito que me fizesse perder o interesse literário nele.

Mal comparando (muito mal comparando), eu perdi todo e qualquer interesse no Marcelo Camelo depois que ele cantou com a Sandy e a Ivete Sangalo. Faz sentido?

Fuck off!

Eu tinha tão pouco interesse no Salinger, que ao ler a notícia da morte dele, achei que ele já tinha morrido há tempos.

Ainda tenho esperança de que até o Duda chegar no Colegial, “O Apanhador No Campo de Centeio” vai fazer parte dos livros indicados pelos professores dele, ao invés de “Iracema”,  ou “Maíra”. Mas ainda que não seja, acho que ele vai ler de qualquer jeito, disso eu tenho certeza.

O Salinger escreveu o meu livro favorito. Porém, por mais contraditório que seja, eu nunca senti vontade de conversar com ele…


Um Casamento em Kripton

No Sábado em que escrevo no Malvadezas, falei sobre o Natal e a Nicarágua, agora me ocorre falar de um casamento em Kripton… É que eu queria dizer algo como… estive em Kripton, quando fui a Goiânia em abril do ano passado, pro casamento do Pescoço, mas gostaria que isso saísse sem dar a mínima impressão de que eu me acho o Superman.  Porque foi como estar entre os meus, na minha terra, com gente igual a mim. Sim, reunião dos Acionistas Majoritários da Verdade, onde “a prosa dá liga”, como bem disse o Helinho no dia em que esteve entre a gente, num churrasco na casa do Rock and Roll, uma das últimas ocasiões em que vi o meu coroa feliz – e pensar que o abraço fraterno deles foi a última vez em que se viram… melhor assim, foi uma excelente despedida, quase um fim de tarde na casa do lago de Invasões Bárbaras.

A prosa dá liga por várias razões, quase todas elas maledicentes e carregadas de preconceitos; como quando estávamos num barzinho e chegou uma galera pra fazer “música ao vivo”, todos nos olhamos com o mesmo olhar. E o olhar evoluiu para um riso uniforme de sarcasmo quando os “músicos” iniciaram os trabalhos com Djavan. Ali, ninguém discorda que Djavan não dá, é o fim! Djavan é o máximo que a galera que ouve Sertanejo Universitário acha que consegue chegar em direção ao “bom gosto”. E num consenso turbulento e barulhento, chega-se à conclusão que, apesar de ser Djavan, “Fato Consumado” e “Flor de Lís” dá pra ouvir.

Sim, uma concessão ao Djavan, e olha que não somos de fazer concessões, tanto que ao falar que gostei da versão de “UP” dublada com o Chico Anysio, quase fui fuzilado com o argumento (que eu mesmo sustento) de que NÃO SE ASSISTE UM FILME DUBLADO E QUEM ASSISTE É IDIOTA. E pouco adiantou minha tentativa de apresentar uma atenuante, a de que o Duda adora o filme e – coitado – não entende inglês, parece que eu não entendi que não existem brechas legais para burlar essa lei de não se assistir um filme dublado.

Paulo Francis surge na pauta e provoca reações: gênio ou reaça, e suas mais improváveis variações, nunca indiferença. Ninguém ousa, ali entre os Ferreira, perguntar quem é Paulo Francis, porque a gente não perdoa, meu pai se referia às minhas namoradas como “aquela que achava que o Neruda era brasileiro”, ou “a que nunca tinha visto UM filme do Woody Allen” e assim por diante. Como bem definiu a Laura quando nos conheceu, somos um bando de loucos, onde 6 pessoas vociferam ao mesmo tempo, cada um com uma opinião diferente sobre a Guerra das Malvinas!!!!

Somos esse povo que o Google tá tornando obsoleto, pois hoje em dia, não precisam mais da gente pra saber quem fez o segundo gol da Holanda contra o Brasil em 74, ou qual atriz interpretou a Leila Diniz no filme biografia dela. Outro dia, nem acreditei quando o Giba me ligou querendo saber a capital da Bulgária! Com o Google, talvez a gente brigasse menos… mas acho que seria menos divertido. Ninguém fala de Big Brother, achei isso simplesmente impressionante! O Big Brother não existe ali! Na mesa do bar, ninguém fica constrangido de afirmar que não existe uma pessoa inteligente que goste de Ivete Sangalo – até porque, na NOSSA frente, ninguém tem coragem nem mesmo de afirmar que já ouviu Ivete Sangalo! Equivale a admitir que experimentou um prato de bosta e não é tão ruim assim…

No casamento, a Laura achou engraçado: nenhum dos padrinhos faz “em nome do pai”, ou reza o Pai Nosso, ou brinca com o padre daquele negócio que ele fala e a gente tem que repetir “bla bla bla no amor de cristo” ou “whatever who cares ele está no meio de nós”. A postura é de resistência solene, todo mundo levanta o braço direito pra sei lá o quê – quando eu disputava jogos era pra fazer o juramento do atleta -, mas a gente fica ali, firme, as mãos cruzadas em frente ao corpo. Sim, a verdadeira piece de resistance seria não ir na igreja, mas acho que faz parte da… molecagem? Não sei, a gente não regula muito bem da cabeça. Uns ateus, outros simplesmente de bom senso pra não dizer amém para a santa igreja católica. Também, não perdemos tempo falando mal da nobre instituição, pois assim como em O Poderoso Chefão, respeitamos a matriarca e só consideramos a hipótese de matar um irmão depois que ela se for. Mas todo mundo, cada um a seu modo, tem um pouco de certeza que ela não vai embora nunca, se Deus quiser.

No fim, é divertido pra cacete! Sei que tenho que podar minhas arestas e esconder meus espinhos na vida social, se não quiser ser banido de toda e qualquer roda, pois o mundo assiste Big Brother e ouve Ivete Sangalo e não há nada que se possa fazer a respeito. A Laura vive me perguntando porque eu ainda falo que todo mundo que ouve Ivete Sangalo é idiota, e eu digo: ainda sonho com o dia em que alguém vai me falar: “desculpa, Randall, mas eu ouço Ivete Sangalo e não sou idiota“. Isso nunca vai acontecer, as pessoas preferem ficar magoadinhas e dizer que “o Randall é foda”…

Foi bom estar em Kripton, Asgarth, Tatooine, Vulcano ou qualquer outra alegoria semelhante que signifique O LUGAR DE ONDE VOCÊ SAIU.


Aniversário e Natal – Coisas Distintas!

Um dia, a pretexto de sei lá o quê, o assunto chegou em aniversário e eu falei pro Xisto que ele fazia aniversário no mesmo dia que o meu filho. O que se seguiu foi uma dessas ocasiões em que, num filme hollywoodyano, ocorre a revelação da principal mensagem enquanto conteúdo edificante. Ele colocou a mão no meu ombro e disse, solenemente:

– Nunca dê a ele um único presente dizendo que é de aniversário e natal! – E mais não disse, nem haveria o que ser dito. A “cena” poderia ter sido num pico do Himalaia, se não tivesse sido na porta de um velório, mas eu não só entendi o recado, como me lembrei, tempos depois, que meu pai fez isso comigo!

Ele me ligou num dia 22 ou 23 de dezembro, completamente bebaço, falando que ia me pegar em casa pra me levar ao shopping escolher o meu presente. Fez questão de deixar claro: O QUE EU QUISESSE! Era um só presente, mas eu poderia escolher qualquer coisa! Quem conhece o meu pai, sabe de sua lendária sovinice e de sua exagerada expansão dos conceitos de supérfluo, o que englobava, claro, presentes de natal. E é mais do que óbvio que uma criança de 10 anos, num universo pré vídeo-game, só poderia escolher uma coisa como presente máximo: uma bicicleta! E foi o que eu escolhi, uma berlineta vermelha, da Calói! Eu nem acreditava! Foda é que, refeito do porre, entrou numas de devolver, meu avô intercedeu e ele, puto da vida, decretou: “Fica como presente de Natal e aniversário!”.

Meu aniversário é em maio…

Bom, o meu pai foi de suma importância na formação do meu caráter e intelectualidade, mas tem um sem número de exemplos de como não agir, que pretendo seguir a risca! Outro dia mesmo, disseram que o Renato Gaúcho não costuma gostar de jogador indisciplinado, e eu na hora disse que não gostaria que o Duda fosse um filho como eu fui. Ano passado, fizemos a festa de aniversário dele num buffet, a coisa mais pequeno-burguesa que eu consigo me imaginar fazendo. E foi do caralho! A descoberta do universo do Peter Pan foi algo fundamental para o Duda, ele realmente embarcou na viagem da coisa! Não tirou a roupinha hora nenhuma, brincou de espadas com os amiguinhos, curtiu o seu dia! E parecia nítido que ele sabia, que ele tinha consciência que era o SEU dia!

Eu não tive festas de aniversário. Não essas assim, ou mesmo as que a minha tia, com muito menos recursos financeiros, fazia pros meus primos. Ontem, o Duda teve a festinha que eu sempre quis. Pra mim. E descobri que é mais gostoso quando é pro nosso filho! Tento não entrar numas de entender porque isso nunca bateu assim com o meu pai e muito provavelmente tem a ver com o fato de eu ter sido filho de um casal que não rolou. Talvez. Mas nem está importando muito. Porque o que as festinhas do Duda representam pra ele servem para que eu me entenda com o meu passado, cuja pedra já tá zerada há bastante tempo. Tem uma coisa muito legal nessas festinhas do Duda pra 50 pessoas, no máximo: gosto de todo mundo que está ali. Família pequena, os bons amigos com seus filhos, adoro ver meu filho com os filhos dos meus amigos, penso na hora no meu pai e no Robertinho e num tempo que ficou… dos meus grandes amigos, falta o Giba, que já me avisou que em festa de criança, eu devo convidá-lo na de 10 anos em diante. E assim se faz, com meus amigos eu tenho essa liberdade de lidar na maior transparência.

Eu nunca vou esquecer o pós do ano passado, quando, pegando carona num verso genial do Marcelo Montenegro, jogamos a festinha na banguela, prolongando a gasolina daquela alegria toda e fizemos um “Caça ao Tesouro”, escondendo os presentes pela casa e fazendo ele encontrar através de pistas! A família toda participando, os padrinhos sensacionais que ele tem, uma tia avó que é tão avó como se deve ser, foi delicioso ver a reação dele! Na hora em que ele achou a bicicleta, parecia filme! Ele não falou nada, subiu em cima e saiu pedalando! Parou no meio, desceu, e ficou pulando no lugar, comemorando! Pra depois, sair pedalando de novo! Bicicleta, mais um clichê, mas um belíssimo clichê, presentaço do Dindo! Ele passou o dia às voltas com os seus presentes, quis dormir com a camiseta do Darth Vader, depois trocou pela do Che Guevara (e eu me sentindo responsável pelo meu filho receber esse tipo de presente-ícone), e antes de dormir, perguntou pelos “amigos”, que queria brincar com todos eles de novo!

E aí, eu me lembrei do sábio ensinamento do Xisto, que me fez cometer pequenos estelionatos com a Laura: separamos alguns presentes do aniversário, mais os “daqui de casa” que foram “de aniversário e natal”, pra dar só no natal! E já vejo o meu filho curtindo um outro tipo de situação que eu não curti muito bem, e sei que esse negócio de ficar se realizando através do filho não é um caminho dos mais saudáveis, mas eu sei a hora de parar… acho que sei.


4 Anos do Duda!

Foi numa quarta, em dezembro, entre os dias 19 e 20. Saí pra trabalhar como faço desde os… sei lá, houveram interrupções e tale coisa, mas faz tempo que eu trabalho, embora maurícios-bostas criados a leite com pêra questionem a legitimidade do meu emprego de Mega-Clerk na Locadora de vídeo-games do Rock and Roll, eu acho que existe um abismo de diferença entre trampar e pedir dinheiro pra mãe.

Mas eu fui trabalhar, almocei em casa, ia deixar o carro com a Laura pra ela ir na última consulta de rotina com a ginecologista, mas caiu um verdadeiro pé d’água, achei melhor que ela fosse de táxi. Era uma consulta só pra confirmar a cesárea pra sexta-feira, mas por volta das três, ela me ligou:

– Randall, vou pro hospital.
– Você ainda não foi?
– Pra maternidade, Randall!!!!!
– Pra quê?
– A médica mandou, disse que o líquido tá baixo…
– O Duda vai nascer?

O Duda ia nascer! Ela me avisou que não dava nem pra passar em casa e pegar a bagagem da maternidade, que ia direto pro Santa Joana e que eu precisaria ir pra casa – RÁPIDO -, pegar as coisas e ir pra maternidade – RÁPIDO. Começou a me dar uma paúra, um não saber o que fazer, tava chovendo, tinha uma 23 de Maio pela frente, puta medo de ficar no trânsito e ouvir pelo celular o parto do meu filho…

Cheguei em casa e liguei umas 6 vezes pra Laura a fim de confirmar que não tinha esquecido nada. Demorei mais tempo escolhendo quais livros levar, peguei 5. Já disse aqui que meu pai levou 17 livros pra Lua de Mel dele com a minha mãe, mas vamos combinar que são propósitos diferentes, certo? E eu não sabia quanto tempo ao certo passaríamos lá, enfim, 5 livros me pareceu uma quantia razoável. Para fins de registro, levei um livro pra minha Lua de Mel. Comprei mais um na livraria do aeroporto. Ok, aqui entre nós, tinha mais um pocket escondido.

A 23 de Maio estava livre, incrível! Chovia a garoa da terra onde meu filho nasceria, um paulistano entre um goiano e uma sorocabana, ôrra meu! Fui falando no telefone com o pessoal de Goiânia e avisando que o meu Grohmann-Bonetti-Ferreira estava chegando, essa mistura de alemão com italiano e irlandês e português ora pois, tocou o telefone e era uma advogada com quem vinha tentando fechar um contrato complexo e tinha prazo até às… 16 horas daquele dia!

– Danielle (o Dra foi pras cucuias, não sei como não falei um Dani!), desculpa mas eu tou no trânsito, tou indo pra maternidade, meu filho vai nascer agora!!!!
– Que bárbaro, Dr. Randall, mas aproveitando, eu precisava fechar com o senhor a Cláusula Quarta do nosso contrato, pra gente conseguir finalizar isso antes das festas…
– Manda a minuta pro meu e-mail, por favor? Eu analiso e te respondo com “ok”, ficou do jeito que a gente conversou?

Cheguei no hospital e perguntei pela Laura na Recepção. A moça me deu a chave do quarto, mas não tinha ninguém. Pânico! Será que entrou em trabalho de parto? Onde é a zona de parto, algo assim? O celular dela – pra variar – sem sinal, o que provavelmente era um sinal de que ela estaria… encontro minha sogra do lado de fora do hospital, fumando, cânticos de louvor à indústria do tabaco, cadê a Laura?

Tava numa salinha de espera, tranquila, esperando pra passar por uma triagem ultra burocrática e chata pra caralho:

– Profissão?
– Fisioterapeuta.
– Escritor.
– RANDALL????
– Advogado…

Não sei porque algumas pessoas acham que é mais vantajoso se apresentar como advogado do que como escritor. Me separei dela de novo, que foi pra tal da zona de parto, ser preparada, enquanto eu fui pro quarto. Liguei o computador, não tinha sinal de rede wi fi, bosta, preciso analisar a Cláusula Quarta do contrato tal, liguei na empresa, pedi prum bróder ler a Cláusula pra mim, pedi pra ele responder com um “ok” e, conforme o horário que o Duda nascesse, ia na empresa no dia seguinte pra finalizar essa porra. Não sei o que o Sr. Gekko acha da Licença Paternidade, mas quem aluga o cu não escolhe hora de cagar, enfim, acho que estava tudo resolvido. Era pra eu esperar no quarto até me chamarem no serviço de alto falante.

Achei que seria uma boa idéia tomar um banho. E fazer a barba. Tirar o cavanhaque. Bom esse chuveiro… minha sogra entrou no quarto, a porta estava destrancada mas graças aos bons fados eu já estava vestido.

– Estão te chamando, Randall!

Eram 5 e meia da tarde! E mais burocracia, eu tinha que pegar um papel lá embaixo, pagar uma taxa pra ter o direito de assistir ao parto, carimbos, assinaturas, meu filho vai nascer, caralho, anda logo com isso, uma mulher com uma sombra verde limão tava na porta, não dava pra olhar pra outro lugar além dos olhos de contornos cítricos dela, tudo certo, coloquei umas roupinhas ridículas, touquinha, e fui pro quarto. A Laura estava tranquila, tomando uma gelatina. Linda! Eu não me lembro de ter visto a Laura tão linda, tão serena, aquela mulher estava prestes a ser mãe e eu era o pai. Tinha um negócio pregado na barriga dela que fazia um barulhão, era o coraçãozinho do meu filho. O coração dele, onde tinha um troço chamado golf ball que me tirara umas boas noites de sono, mas que me falaram que “não era nada”, mas que pra ter certeza que não era nada, só depois que nascesse. Nasce logo, filhão, e manda essa bola de golf pra longe. Golfe e tênis são esportes de coxinhas, quando você crescer eu te dou uma bola de verdade, daquelas que a gente sente um indescritível prazer um chutá-la pra mais longe, depois de subir nos ombros dos ídolos e dos medos!

Sem “Melodrama Blues”, vai nascer quando? Dilatação, depende disso. 6 da tarde, meu filho vai nascer dia 19, um dia antes do aniversário do Padrin, o Rock and Roll! Dilatou? Não. Mas vai nascer hoje? Foi o que a médica falou, mas temos que esperar… felizmente, ninguém fez a piada “quem já esperou nove meses”… quer dizer, acho que alguém fez essa piada sim, mas não prestei muita atenção. E ficamos esperando.

Sem celular, pode entrar com celular? Pode. E com livro? “Pode também, só não pode ficar entrando e saindo, vai lá no quarto, pega tudo o que você tem que pegar de uma só vez e volta.” Salve Simpatia, Dona Sombra Verde, vou lá no quarto pegar tudo e volto. Minha sogra tava na lanchonete, avisou que a minha cunhada, madrinha do Duda, estava vindo. Legal! Que horas vai nascer? Boa pergunta.

Oito, oito e meia, nove… FOME. Seria ético dizer que eu tava com fome pra alguém que vai ter que ficar em jejum sabe Deus por quanto tempo? E que a qualquer momento pode estar sujeita às famigeradas contrações? Pelo que vi em filmes, a perspectiva não era muito animadora; pelo que a Laura é em condições normais de temperatura e pressão, poderia tirar uma base do que estava por vir, mas aparentemente, dava pra amarrar a pessoa. Nove e meia, muita fome, “vai comer alguma coisa, mas volta logo?”.

Fui lá enfrentar a Sombra Verde e sensibilizá-la quanto ao meu estado de necessidade, fome pra cacete, ela liberou mas aparentemente curtiu essa oportunidade de exercer o poder sobre a possibilidade de alguém se alimentar ou não. A Flávia já tinha chegado, o Padrinho do Duda também, e o primeiro comentário que ele fez foi que ia entrando num lugar que não podia e uma mulher com uma sombra verde berrante o barrou. Estávamos eu, a vó e os padrinhos do meu filho.

Um misto quente e uma coca zero, meu filho vai nascer a qualquer momento, voltei logo e levei um Sonho de Valsa pra Sombra Verde. Um sorriso e ela perguntou se é menino ou menina, como vai chamar, e contou que o filho dela também nasceu de madrugada. De madrugada? Como assim? Quase onze horas, contração zero, a perspectiva é essa, então? 11 e pouco, agora espera, Duda, espera pra nascer dia 20, o dia do Rock and Roll!

A fome passou, agora era o sono. E nada de contrações, nem dilatação, como é que faz? E se mandarem a gente pra casa, alarme falso, volta aí na sexta, tale coisa? Não, ainda bem que não, disseram que já iam chamar a médica da Laura, ela está a caminho, o anestesista já chegou, cochilei na cadeira, dormi profundamente, acordei com a médica na frente da luz, um vulto, vamos pra sala de cirurgia?

Nova preparação, o sono desapareceu e agora era só o medo. Tá tudo bem? Tudo ótimo. Outra preparação, entrei na sala e a Laura tava acordadona:

– Eu ainda tou sentindo as minhas pernas.
– Que bom, eu não anestesiei suas pernas, você sabe por onde seu filho vai sair?

Cheiro de carne queimada, mexe daqui, mexe dali, todo mundo diz que é comum o pai desmaiar, não sou propriamente um poço de resistência, vai demorar muito? Uma cara de susto da médica, levanto da cadeira, o quê que foi? “Seu filho é grandão”, foi a resposta dela, mas depois ela disse que o cordão tava enrolado na cabeça dele, como uma coroinha, o que não é grave, fuça daqui, fuça dali, fuça, fuça, fuça, pega um troço de ferro, “prepara a câmera aí, cara, seu filho tá saindo”, meu filho! Ela puxou pela cabeça e o pescocinho dele deu uma esticada, deu medo pra caralho, vai pro colo da pediatra, vem pro meu colo, puta merda, é a boca da Laura, é o meu filho!!!!! Roxo, cheio de meleca, com os olhos fechados parecendo o Mr Magoo, meu filho é a coisa mais linda do mundo!

– Tou com sono…
– Será que é efeito da anestesia?
– Quase 3 da matina, véio, ela tá em trabalho de parto desde às 5, é óbvio que ela vai sentir sono!

Voltei pro quarto e, como que por milagre, pintou um sinal de wi fi, postei o nascimento oficial do Eduardo Grohmann Bonetti Ferreira, às 15 pras 3 da manhã do dia 20 de dezembro de 2007, o Dia do Rock and Roll! abri meus e-mails e a advogada disse que estava tudo certo quanto à Cláusula Quarta, iria imprimir, colher assinatura e mandar pra empresa. A Advogada da Nova Zelândia também tinha me mandado um e-mail, tínhamos uma questão pendente, aproveitei e falei que meu filho tinha nascido “in this very moment”. A Laura veio pro quarto e eu nunca me esqueço do que ela disse:

– Eu tou com saudade DELE…

Como é que vai ser daqui pra frente? Não sei… quer dizer, hoje eu já sei, mas o medo que eu senti na sala de parto nem se compara ao meu medo quando desci de mala e cuia pro estacionamento do hospital, pra levar meu filho e minha mulher pra CASA. Dirigir com o Duda no carro, nesse trânsito caótico de São Paulo, na Maternidade era tudo tão fácil, tantos médicos e enfermeiros e lacaios em geral, como que vai ser em casa, e se ele…

Foram férias inesquecíveis! Penso que a Laura não deve sentir muita saudade daquele período em que ficou um verdadeiro bagaço, dava dó de vê-la acordando pra amamentar, se arrastar até a poltrona, e voltar pra cama. Nunca vou esquecer de ficar embalando o Duda no bebê conforto com a Flávia até as 3 da manhã, hora de mais uma mamada e quando eu ia dormir. A vida girava em torno do Duda, do xixi, do cocô, do umbigo, do leite, os remédios, chás, fraldas, fraldas e mais fraldas…

Quatro anos depois, mudou pouca coisa, mas a vida voltou ao normal. Quer dizer, a vida nunca mais será a mesma, não tenho a menor dúvida que o Duda foi a melhor coisa que me aconteceu, e é difícil acreditar que já se passou um ano.

Por quê eu escrevi esse texto cheio de informação e que interessa nada a ninguém? Porque em cada momento daquele, eu ficava pensando se conseguiria realmente lembrar de cada pequeno detalhe daquele dia, e acho que quase consegui. Não sei se vou seguir lembrando nos próximos anos, por isso, registrei aqui, para a… digamos… posteridade.

Faz um tempão que eu sou Pai e em fevereiro eu vou ser DE NOVO! Até lá, Feliz Aniversário, Duda, obrigado por tudo o que você é!


Igual Bode na Horta…

Essa expressão faz mais sentido na minha terra, quando se diz que alguém apanhou “igual bode na horta”. Tá difícil compreender o sentido? Ok, um bode entra na horta e começa a comer tudo, como você tira o animal de lá? Pedindo por favor? Não, infelizmente. É preciso bater, bater e bater até ele ficar mole e você arrastar o bicho de lá. Sei que nesses dias de indignação Yorkshire não é muito conveniente usar esse tipo de exemplo, é que foi mais ou menos assim que o Santos apanhou do Barcelona hoje, de maneira covarde e vergonhosa.

O Santos perdeu antes da bola rolar, em 2 momentos:

1- O temor reverencial! Se alguém já assistiu o documentário “Todos os Corações do Mundo” (Filme oficial da Copa de 94), deve ter se lembrado de uma imagem marcante, quando os times estão perfilados no túnel pra entrar em campo e o Baggio encara fixamente o Romário. Que não está nem aí, nem olha pros lados, enquanto o italiano escancara preocupação + admiração + sei lá quantos sentimentos semelhantes. Pois o Neymar fez de forma idêntica com o Messi, só que o olhar era de paixão. Em português claro e na gíria, “pagou pau”! Aliás, se teve algo que o Neymar fez nessa final foi isso, pagou pau do começo ao fim! Quando perguntado sobre o Puyol, disse que era fã dele desde que jogava vídeo game, e que gostaria de fazer troca-troca de camisa ao final do jogo…

Eu me lembro do Jubs de 97, uma cena lamentável que me marcou: num dia deu certo e eu fui ver o nosso jogo de handebol contra São Paulo, que era a base da Seleção Brasileira. Quer dizer, era a Seleção Brasileira. Claro que iríamos perder, mas antes do jogo, os caras iam tirar foto com os adversários!!!  Isso é um absurdo, um time tem que chegar na cancha odiando o seu adversário, não querendo autógrafo! E o Neymar, que deveria ser uma espécie de líder do time, liderou nessa palhaçada de querer chupar o pau dos catalães!

2- O Muricy ofereceu a cabeça do Durval numa bandeja de prata! Ao escalar o time com 3 zagueiros, o Muricy mandou o seguinte recado ao Barça: “podem vir, que eu estou me cagando todo de medo de vocês”! Nada justifica essa escalação bizarra, a não ser a vontade de entrar pra perder de pouco, e nem pra isso serviu, pois 4×0 não é pouco MESMO! E aí tem o Durval…

O Presidente do Santos é todo cheio de se gabar que é administrador e estrategista e responsável por ótimos planejamentos, daí que o cara planejou ser campeão com o Durval? Quer dizer, dependendo da sua proposta de jogo, até dá pra ter um Durval em campo, por exemplo, se você vai atacar pra cacete, como o Barcelona, que se dá ao luxo de ter Puyol, Piqué e Mascherano ali, 3 múmias, mas que não atrapalham nunca porque a bola quase nunca chega neles. Ou ainda, se o “entorno” do cabeça de bagre der uma ajuda, como era o caso do Breno quando jogava com Lugano e Miranda, com Josué e Mineiro à frente; ou o Corinthians que foi campeão com Batata na zaga, jogando ao lado do Gamarra e com Rincón e Vampeta cuidando da cabeça de área. Agora, se você conta com o Edu Dracena pra desempenhar jornada dupla, e só o Arouca no meio a se desvincular da proposta “Pura Magia/Jeito Moleque”, não dá pra ter o Durval!

Porque o Durval, coitado, vai entregar… como entregou os dois primeiros gols que causaram, de forma objetiva, a derrota! Sim, porque havia ainda a possibilidade do rame-rame do Barcelona ser só um rame-rame como era o do Crujff, e o Daniel Alves já tinha feito das suas dando um contra ataque que o Neymar enfiou na bunda, até que o Durval cometeu duas falhas grotescas e saíram os dois primeiros gols do Barcelona! Coitado do Durval, seria inevitável, pois ele é ruim. A questão é que, jogando como o Santos costuma jogar, contra Kashima e Mirasol, ninguém precisa se preocupar em se defender. Mas, se o Muricy queria tanto assim se defender, não poderia ter usado o Durval.

Porém, acima da falta de aptidão futebolística do becão do Peixe, acho que o que derrubou o time realmente foi a (falta de) ATITUDE do Santos. Claro, existem derrotas e derrotas, mas essa do Santos foi feia demais! Como disse o Helinho, faltou ali o cartão necessário, a chegada mais dura, uma demonstração, por mínima que fosse, que o time estava ali jogando uma final de Mundial! Ao ver a declaração do Neymar sobre o Puyol, me deu saudade do Garrincha dizendo que o Russo que o marcaria se chamava João! Mas pra não ficar só no Neymar, que tal lembrar que um tal de Ganso ainda existe? E que, infelizmente, parece trilhar o mesmo caminho do Reinaldo, aquele 9 do Atlético Mineiro, a quem não importava o que fazia, as pessoas só comentavam o que ele seria capaz de fazer se não tivesse perdido os meniscos tão novo… acho que o Ganso “micou”. Em termos de negócio, não tenho a menor dúvida, mas o jogador, o atleta, não sei o que vai ser dele. E também não sei se é só em função das lesões ou se o cara realmente “desacorçoou” com essa transferência que não deu certo, porque uma coisa é o Neymar, “dono” de Santos e viciado em pagode, ser celebridade e tudo, não querer ir embora do Brasil, coisa que qualquer outro jogador de futebol cogita. E agora, o Ganso já deve estar pensando que talvez seu futuro esteja no Málaga, no Albacete, no Lecce, Nantes, Rússia, Whereverquistão ou no Vitória de Guimarães, de onde sairá daqui uns dois anos para o “Mundo Árabe”.

E o Léo? Meu Deus, que desgraça! Antes do jogo, falei da Avenida Daniel Alves, mas o que eu vi no lado esquerdo da defesa do Santos foi um BOULEVARD, um local de passeio, o lateral do Barça, que independentemente da camisa que esteja usando, parece estar sempre de abadá, deitou e rolou por ali, sem misericórdia! Sem falar que esse energúmeno ainda saiu falando coisas do tipo “Vamos ver se esse Barcelona é isso tudo”, sério, o Léo! Triste, muito triste…

Não dá pra não falar do Neymar, que simplesmente amarelou, pipocou feio mesmo! Não fez absolutamente nada o jogo inteiro, e aí eu fico pensando que é fácil comemorar gol de forma pseudo estilosa, socando o ar de baixo pra cima e inflando a bochecha pra soprar forte quando o adversário é o Kashima Reysol ou o Grêmio Itinerante de Guaratinguetá D’oeste. E quando a parada é a vera, jogo de homem? Manda dizer que não tá, como o Alexotan costumava fazer… e ao final do jogo, nenhuma ponta de sofrimento, nenhuma tristeza, nada! Parecia que tinha chegado ao fim o seu passeio no Hopi Hari, não uma batalha pelo título Mundial! Aula de futebol? Como disse o Tiago Gomes no comentário do texto anterior: pra acontecer uma aula, tem que ter aluno, e onde estava? Preocupado em trocar camisa com o Puyol e bajular o Messi, tal como o Robinho no final do jogo em 2006 pulando no pescoço do Zidane. Aliás, acho que foi essa desgraça desse Robinho que inventou essa coisa horrível de “alegria/jeito moleque” que só faz mal ao futebol. Jeito Moleque? Futebol é jogo de HOMEM!

Homem entra em campo pra fazer o seu trabalho, moleque entra em campo pra brincar de bola, e nunca esteve tão claro quem é homem e quem é moleque como no jogo de ontem! De um lado, gente séria, competente, ciosa do seu dever a cumprir. Do outro, molecagem, descompromisso, palhaçada! O Santos deveria ser proibido, pelos próximos 5 anos, de pisar num torneio mundial de Clubes, pois foi a maior surra que um time levou! Lembrem-se que nem o MAZEMBE perdeu tão feio quanto o Santos perdeu, e isso não é uma aula, e sim, uma LIÇÃO a ser aprendida, Sr. Muricy: quem mexe com moleque, amanhece mijado.

Claro que do outro lado existe um time quase imbatível, cujo grande craque, um dos maiores da história em todos os tempos, quase dando um recado ao Neymar, limita-se apenas e tão somente a JOGAR FUTEBOL. Não usa cabelo de idiota, não comemora com dancinha, não se enche de brinco, corrente e outros penduricalhos, só entra em campo e joga. E joga pra caralho! E nunca se esconde, não cai com qualquer encostãozinho, não provoca, não enche o saco, não faz balaca pra derrubar técnico, nada! Joga futebol e só! E é muito! Fora isso, o time que já contava com gente do quilate de Xavi e Iniesta pra ajudar, ainda inclui o Cesc Fábregas, cansado de carregar o Arsenal nas costas, joga leve, multiplica-se em campo e faz a gente se esquecer do resto, seja Pedro, Villa, Thiago ou Legião. O Barcelona é Messi, Xavi, Iniesta, Fábregas e o resto! Aliás, o Durval poderia muito bem ser titular desse time do Barcelona e ainda assim, seria campeão do mundo!

Existem derrotas e derrotas. Uma coisa é perder como em 82, outra bem diferente é perder como em 2006. E uma outra, ainda pior, é perder como o Santos em 2011, que entra pra perder de pouco e nem isso consegue! O pior é ter que ouvir gente idiota dizendo que o problema é o tal futebol arte, pois não adianta nada jogar bonito e perder, mas me diz uma coisa: isso o que o Santos fez no domingo é bonito? Arte? Acabou 2011, e o Santos que era o time mais lindo do Brasil, termina o ano com um “passa moleque” daqueles! Que sirva pra alguma coisa!